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O áudio como produto e profissão

É preciso que a gente esteja na mesma página: o áudio não tem nada de novo, muito menos o consumo de conteúdos por este formato. Seja oralmente, depois pelo rádio, K7s, CDs e mais recentemente pelos apps..é importante pontuar que não estamos falando de algo que surgiu recentemente, mas que sempre esteve por aqui.


Mas algo mudou: a possibilidade de, como criador ou produtor de conteúdo, distribuir esse conteúdo por voz. Então quando falamos na indústria, do boom dos audiobooks ou do podcast se tornando um produto de massa, estamos principalmente - ou pelo menos primariamente - falando de uma mudança de dois grandes aspectos: distribuição e consumo.


Quem já está na indústria há algum tempo com certeza se lembra das iniciativas que existiram de audiobooks em CDs, expostos em livrarias e que - acordos comerciais e de PDV à parte - eram um produto pouco amigável para o consumidor. Veja, não estou falando aqui de conteúdo, aliás um dos audiobooks que mais gosto é a biografia de Tim Maia narrada por Nelson Motta, produzida pela Singular (extinta iniciativa de Audiobooks do Grupo Ediouro). Mas convenhamos, o produto era complicado de se produzir, restrito para se expor e burocrático de consumir.


Isso aconteceu mais ou menos (bem menos na verdade) com a música. Por ser um conteúdo e uma categoria muito mais consumida que os livros, o próprio mercado absorveu as mudanças de mídia de maneira mais orgânica. Outro ponto que tenho que levantar aqui e ser justo com o livro: a experiência de ouvir música mudou pouco...a mídia mudou, mas o formato é o mesmo. Era Vinil, virou K7, CD e agora MP3. Já no livro estamos falando de todas as mudanças anteriores, somadas à uma mudança de formato, de plataforma de contação de histórias...então é preciso ter em mente que estamos falando do desenvolvimento de um novo hábito, um novo comportamento de consumo de conteúdo.


Mas voltando aos apps, do mesmo modo que os apps estão permitindo o renascimento do audiobook, eles transformaram absolutamente a indústria fonográfica.


Em um artigo recente da Forbes, entrevistando Daniel Ek (fundador e CEO do Spotify) os números impressionam: em 2012 quando lançaram o app nos EUA o faturamento era de USD 300m anuais com um valuation de USD 2bi. Passados menos de 10 anos o faturamento saltou para USD 9.7bi e o valuation atingiu incríveis USD 72bi.


Falando de indústria, quando o Spotify desembarcou nos EUA o streaming de músicas era um negócio de USD 600m e representava 4% do faturamento global das gravadoras. Em 2020, o faturamento atingiu a casa dos USD 13.4bi, o que representa hoje 62% do faturamento global das gravadoras. Só de direitos, foram pagos ano passado USD 5bi.

Se você quiser ler o artigo na íntegra, segue o link (está em inglês, mas se você preferir ler em Português uma tradução no próprio navegador resolve): https://www.forbes.com/sites/stevenbertoni/2021/11/29/spotify-has-plans-to-move-beyond-music-and-become-the-instagram-and-tiktokofaudio/


Não estou aqui querendo dizer que nossa indústria vai atingir os mesmos patamares (seria ótimo), nem que o Spotify só tem pontos positivos. Mas é um fato (apoiado em muitos outros números) que o consumo de música digital, através de apps, em modelos majoritariamente de streaming e subscrição, mudaram a indústria fonográfica e a maneira como eu, você e milhões de pessoas ao redor do mundo consomem música.


Vale aqui uma parada rápida para explicar dois conceitos que confundem muita gente: streaming e subscrição (ou assinatura). Então vamos lá, de maneira bem simples:

- Streaming é uma tecnologia que permite o envio de pequenas frações de um arquivo de um servidor para um aparelho, fazendo com que o consumidor não tenha que baixar o filme, música, livro todo antes de começar a consumir. Streaming não é modelo de negócio, é tecnologia.

- Subscrição é um modelo de negócios onde o consumidor paga um valor fixo por mês para ter acesso a determinado conteúdo. Pode ser um catálogo de um app de música, de vídeo ou de audiobooks. Ou seja, existem modelos de assinatura sem streaming, como por exemplo a TAG Livros, ou assinaturas de vinho e comida.


Voltando!


Os números dos audiobooks ainda são mais tímidos. De acordo com a OMDIA: "A receita do consumidor de assinaturas para serviços de audiobook digital e compras individuais é estimada em USD 4.8bi em 2021, tendo superado USD 4 bi em 2020, de acordo com a última previsão digital de Audiobooks da OMDIA. O mercado global de audiobooks vem crescendo significativamente nos últimos anos e a receita total deverá crescer para USD 9.3 bi até 2026 com um CAGR (taxa composta de crescimento anual) de 13,9%. O crescimento vem da confluência dos serviços de audiobooks produzindo ofertas cada vez mais convincentes, a ampla gama de opções de escuta (de smartphones para desktops e alto-falantes inteligentes), e, claro, os lockdowns que movem os consumidores para opções de entretenimento viáveis para uso em casa e em viagens curtas.".


O gráfico abaixo mostra um pouco melhor a evolução do faturamento digital de audiobooks:



Se você quiser ler o artigo completo, segue o link (está em inglês, mas se você preferir ler em Português uma tradução no próprio navegador resolve): https://omdia.tech.informa.com/pr/2021-jul/global-audiobook-revenues-set-to-eclipse-4bn-in-2021


Existem exemplos interessantes de mudança no comportamento de consumo. Na Suécia por exemplo (país natal da Storytel), quando a companhia começou em 2005 a média de consumo de audiobooks era de 2 títulos por ano. Atualmente é de mais de 2 títulos por mês.


Ou seja, o áudio como formato de entretenimento tem crescido não só em consumo mas também em geração de receita para as plataformas e os criadores de conteúdo, sejam eles autores, editoras, agentes e todos os profissionais na cadeia.


Existe um outro formato que também cresceu: os podcasts. Este formato, que surgiu mais como um programa de rádio onde você decide quando ouvir, evoluiu e se tornou um formato de informação e entretenimento em áudio que tem notícias, grandes reportagens, documentários, ficção, e muitos outros gêneros.


O Brasil já se tornou para o Spotify o maior consumidor em horas de podcast no mundo e o crescimento de 2021 comparado com 2020 foi de 330% em consumo. Só no Brasil são milhares de programas, que somam milhões de episódios. Um movimento que já tem tanto criadores de conteúdo que ficaram conhecidos e se tornaram referência como podcasters, quanto grandes nomes da cultura como Mano Brown e Maria Bethânia. Vamos falar mais dos podcasts nos próximos artigos e como eles podem te ajudar :)


Abre-se então não só uma oportunidade para detentores de IPs, mas também para toda uma cadeia de profissionais de vendas, marketing, comunicação e muito, mas muito mesmo para profissionais de produção, narradores, editores, revisores e técnicos de som. Sem falar nos estúdios que estão - literalmente - crescendo em espaço físico para atender uma demanda que cresce no Brasil. Há dois anos atrás, quando comecei a operação da Storytel Brasil, tínhamos que literalmente garimpar narradores, estúdios e produtores. Hoje em dia não só formamos uma rede de profissionais, como a indústria tem fomentado o surgimento e aprimoramento de cada vez mais profissionais do áudio. Só de narradores, recebemos diariamente uma média de 15-20 portfólios de profissionais de voz.


Do mesmo modo, o consumo também cresceu. Só na Storytel, de Janeiro a Setembro de 2021 tivemos mais de 700 mil horas de consumo de conteúdo de fantasia. No consumo geral, quadruplicamos o consumo comparando Janeiro-Outubro 2021 com o mesmo período de 2020.


Aqui vão mais alguns links de artigos interessantes:


Até a próxima!


Texto originalmente publicado em www.publishnews.com.br




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